Sempre gostei de plantas!
Aprendi com minha mãe a coletar mudas e a cuidar de vasos. Até hoje (novembro de 2013) mantenho comigo uma espécie de avenca que me acompanha desde muito tempo, quando deixei a cidade de São José do Rio Preto (SP) para iniciar o ensino superior em Computação em São Carlos (SP).
O interesse pela Fitoterapia começou mais tarde, depois de concluída a faculdade e já trabalhando profissionalmente com programação de computadores na ESALQ/USP (Piracicaba, SP). Corria o ano de 1992 e minha atividade estava muito focada em banco de dados em microcomputadores. A linguagem comum na época era dBase e o sistema operacional o MS-DOS. Nada de Windows, quase nada de Internet.
Lembro-me de que o amigo Prof. Gabriel Adrián Sarriés do Depto. de Ciências Exatas da ESALQ/USP sugeriu criar um banco de dados para organizar as informações do Laboratório de Plantas Medicinais do Departamento de Botânica, cujo idealizador e coordenador é o saudoso Prof. Walter R. Accorsi, um dos pioneiros da Fitoterapia no Brasil. Achei ótima a ideia pois poderia unir o meu gosto pessoal com a profissão. Tomei-me de entusiasmo logo nos primeiros contatos com o Prof. Accorsi, que se mostrou igualmente interessado no projeto.
Para organizar o banco de dados de plantas medicinais do Laboratório foi necessário aprender alguns fundamentos da Fitoterapia, o que me foi pacientemente transmitido de viva voz pelo mestre em seu Laboratório.
Em meio ao amontoado de anotações, livros, apostilas, frascos, apetrechos, gente entrando e saindo e claro, telefone tocando sem parar, fui aprendendo coisas interessantes. Aprendi que uma planta, para ser considerada "medicinal", deve conter em uma ou mais de suas partes as substâncias que possam ser usadas com finalidades terapêuticas. Que essas substâncias distribuem-se de forma desigual pela planta. Que cada parte da planta produz substâncias diferentes e portanto apresentam propriedades diferentes. Que uma planta pode ser considerada tanto medicinal quanto tóxica, dependendo do fato de que substâncias tóxicas também podem se concentrar em outras partes da mesma planta.
Assim, para aprender sobre plantas medicinais, é necessário também conhecer as plantas tóxicas, cujo uso - inadvertido - pode trazer consequências desastrosas não só aos humanos mas também, o que é muito comum, aos animais de estimação.
Com o passar dos anos fui sabendo mais. Para identificar a planta é preciso saber seus nomes populares e sinonímias, seu nome científico e sinonímias, a família a qual pertence, qual parte da planta é considerada medicinal, quais os princípios ativos, as propriedade terapêuticas, a forma de uso desta parte e qual a indicação terapêutica. Além disso, é importante saber a fonte de informação, ou seja, a pessoa que transmitiu a informação sobre determinada planta. Outro dado relevante sobre a identificação de espécies, suas imagens nos diferentes estágios de desenvolvimento, em especial na época da florada, onde mais detalhes são percebidos.
A partir desses ensinamentos, comecei a pensar no modelo de dados que posteriormente deu origem a um dos primeiros banco de dados automatizado de Plantas Medicinais que se tem notícia no Brasil.
As coisas estavam se encaixando na cabeça, mas faltavam os recursos materiais. Escrevemos um projeto e o submetemos a FAPESP. Aprovado, o projeto resultou na aquisição de 3 microcomputadores compatíveis com o IBM PC 386, na época os mais avançados. Conseguimos apoio de estagiário e em pouco tempo o banco de dados estava, como se diz em nossa área, "populado com dados". Os dados ficavam armazenados no HD e o backup era feito em disquetes de 5 polegadas.
Com a popularização dos sistemas de email, abriu-se o leque de contato com pessoas interessadas em Fitoterapia, as quais pediam e recebiam cópias do programa e dos dados.
É bom recordar o passado, lembrar das pessoas que acreditaram no projeto, que virou um produto e ao longo dos anos foi se renovando, ganhando força com o tempo e com o advento de novas tecnologias.
E o círculo "virtual" de amigos e colaboradores foi crescendo, crescendo!
Por fim, vou relatar um fato que revelou a repercussão desse trabalho. Em meados dos anos 1990 o repórter da Rede Globo Ernesto Paglia visitou o Laboratório de Plantas Medicinas e gravou uma matéria que foi posteriormente exibida no horário nobre da grade, o programa "Fantástico" de domingo a noite.