Jurubeba

Nome científico: 
Solanum paniculatum L.
Família: 
Solanaceae
Sinonímia científica: 
Solanum chloroleucum Dunal
Partes usadas: 
Raiz, folha, fruto.
Constituintes (princípios ativos, nutrientes, etc.): 
Esteroides, saponinas, glicosídeos e alcaloides.
Propriedade terapêutica: 
Tônica, desobstruente, digestiva.
Indicação terapêutica: 
Febre, hidropsia, doença do fígado, diabetes, tumor do útero e abdome, anemia, inflamação do baço, problema de bexiga, ressaca.

Descrição [3,4]
Planta perene, arbustiva, classificada como nanofanerófita (planta anã, raquítica, cuja altura varia entre 0,25 e 5 m). 

As folhas são alternas, pecioladas, sinuadas e sublobadas.

As flores possuem cinco pétalas unidas, de cor violeta-pálido. A corola é pigmentada por antocianina. Flor em inflorescência terminal, em panículas abertas. A floração ocorre entre setembro a novembro. Registros de herbário mostram que o período de floração no Estado de São Paulo pode ir até fevereiro.

O fruto, comestível, é uma baga globosa glabra de coloração branco-esverdeada.

O gênero Solanum apresenta muitas plantas úteis na alimentação e também muitas plantas infestantes ou daninhas. A maioria contém substâncias tóxicas. Em algumas espécies certas partes são comestíveis enquanto outras são muito venenosas. Um exemplo bem conhecido é a batata (Solanum tuberosum) que tem folhagem e frutos venenosos e tubérculos comestíveis, embora estes fiquem venenosos quando se tornam verdes pela exposição prolongada à luz.

Confira no final desta página a descrição de algumas espécies de Solanum, todas conhecidas por jurubeba.

Uso popular e medicinal
O uso da jurubeba é bem documentado na literatura contra anemia e problemas hepáticos. Suas raízes, folhas e frutos estimulam as funções digestivas e reduzem o inchaço do fígado e vesícula. É considerada útil contra hepatite e gastrite crônicas, febres intermitentes, hidropisia e tumores uterinos.

O chá das folhas é um remédio contra ressacas após o consumo exagerado de álcool e comida. Contra afecções do fígado (icterícia, hepatite e insuficiência hepática), atonia gástrica, inflamação do baço e vesícula preguiçosa é recomendada na forma de chá por decocção. Recomenda-se em uso externo como cicatrizante de feridas, contra úlceras, pruridos e contusões [3].

Uma infusão do caule em cachaça é usado popularmente como aperitivo ou digestivo.

Estudos realizados em 2002 com camundongos apresentaram associação direta da atividade antiúlcera de extratos metanólicos de S. paniculatum com a atividade antissecretora do suco gástrico, validando o uso popular da jurubeba para o tratamento de doenças gástricas [5].

Os componentes ativos da jurubeba foram documentados na década de 60 quando pesquisadores alemães descobriram novos esteroides, saponinas, glicosídeos e alcaloides nas raízes, caule e folhas. Alcaloides foram encontrados em maior abundância nas raízes e glicosídeos nas folhas. Esses compostos têm efeito tóxico, de modo que não se recomenda a ingestão frequente de preparações de jurubeba.

Outras propriedades farmacológicas documentadas são diurética e tônica. Estudos em animais indicaram que extratos da planta em água ou álcool foram eficazes em reduzir a pressão sanguínea, evidenciando uma ação estimulante no coração.

As características de algumas espécies de Solanum são descritas a seguir.

S. fastigiatum
S. fastigiatum é nativa na região Sul do Brasil, c
omum no Rio Grande do Sul especialmente na Depressão Central. Ocorre também nos países da Bacia do Prata. A origem do nome vem do adjetivo latino fastigiatum, "que termina em ponta", refere-se aos ramos fasciculados da inflorescência que apresentam frutos em suas pontas.

Os nomes populares desta espécie são jurubeba, jurubeba-do-sul, jurubeba-velame, velame. É bastante parecida com diversas outras "jurubebas" e é usada na farmacopéia popular com as mesmas indicações da verdadeira jurubeba (S. paniculatum). Como existem preparações comerciais à base de jurubeba, é comum que as firmas que as apresentam recebam material de plantas parecidas, inclusive de S. fastigiatum.

S. paniculatum é facilmente confundível com S. fastigiatum. Diferem entre si nos tipos de pêlos das folhas e ramos e na forma dos espinhos: em S. fastigiatum são retos e em S. paniculatum são curvos e alargados na porção basal

S. lycocarpum
S. lycocarpum, jurubeba-de-boi, jurubebão ou lobeira é usada para problemas renais, cólicas e diabetes. É tóxica para o sistema reprodutivo, mas não interfere sobre a fertilidade. É tão tóxica que destrói verruga!

S. asperolanatum
S. asperolanatum é nativa na América Tropical, com ocorrência esparsa no Brasil, geralmente confundida com outras espécies. A origem do nome vem do latim "asperu", áspero, e "lana", lã. É conhecida por jurubeba ou jupeba. A planta é parecida com outras "jurubebas" pelo aspecto geral e pelos frutos. Distingue-se de S. paniculatum pelo posicionamento das inflorescências e pelas flores brancas. Plantas novas podem ser confundidas com S. variabile pois em ambas as espécies ocorrem pêlos ferrugíneos. É usada na farmacopéia popular com as mesmas indicações da verdadeira jurubeba (S. paniculatum).

S. variabile
S. variabile é nativa na região Meridional do Brasil e regiões limítrofes dos outros países. No Brasil relata-se a ocorrência de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul, com maior intensidade
nas beiras de estradas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A origem do nome vem do adjetivo latino "variabile", variável, pela grande variabilidade na planta em geral, particularmente no formato das folhas e no tipo de pêlos. Os principais nomes vulgares são: velame, jurubeba-velame, velame-de-capoeira, jurubeba-falsa, juveva, jupicanga.

 Precaução
O consumo de frutos verdes de espécies de Solanum como a jurubeba, joá, mata-cavalo e peloteira deve ser evitado pois é comum a acumulação de glicoalcaloides capazes de provocar vômitos, diarreia, dores de estômago e cabeça.

A ingestão de partes da planta tem causado patologias em bovinos. A ocorrência maior tem sido em épocas de carência de forragem e os animais precisam ingerir a planta por um período prolongado. Estudos feitos na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (1985 e 1987) indicam que a sintomatologia é relacionada com disfunção cerebelar, com crises periódicas do tipo de epilepsia, que duram de alguns segundos a um minuto e são desencadeadas geralmente quando os animais são movimentados ou excitados.

Há perda de equilíbrio e quedas, ficando os animais em decúbito dorsal ou lateral, com tremores musculares. Após as crises, os animais aparentam normalidade, mas alguns estendem o pescoço numa atitude de "olhar estrelas" e buscam maior apoio com extensão dos membros anteriores. Em geral não ocorre mortalidade diretamente relacionada com o problema, mas com as quedas podem haver fraturas. A patologia se torna crônica e a regressão clínica é rara.

 Colaboração

  • Lelington Lobo Franco, Escritor, Pesquisador, Químico-fitologista (Curitiba, PR).
  • Luiz Carlos Leme Franco, Médico Fitoterapeuta, Professor (Curitiba, PR). Memória.
  • Rosa Lúcia Dutra Ramos, Bióloga (Porto Alegre, RS). 

 Referências

  1. SIMÕES, C.M.O. et all. Plantas da Medicina Popular do Rio Grande do Sul. Editora Universidade / UFRGS, Porto Alegre, 1998.
  2. Portal Agropecuário (2013). Jurubeba (S. paniculatum) – planta medicinal para tratamento dos males digestivos - Acesso em 21 de fevereiro de 2016
  3. Instituto Brasileiro de Florestas (IBF): Jurubeba - Acesso em 21 de fevereiro de 2016
  4. Brazilian Journal of Botany (1998): Biologia floral e reprodução de S. paniculatum no Estado de São Paulo - Acesso em 21 de fevereiro de 2016
  5. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006): Estudo filogenétcio das espécies da seção torva do gênero Solanum na região Sul do Brasil (Dissertação de Mestrado) - Acesso em 21 de fevereiro de 2016
  6. The Plant List: Solanum paniculatum - Acesso em 21 de fevereiro de 2016

GOOGLE IMAGES de Solanum paniculatum - Acesso em 21 de fevereiro de 2016