Cristina Amorim
Publicado na Folha de São Paulo (8/9/2004)
Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu que o ginseng pode
apresentar propriedades terapêuticas opostas de acordo com a composição do
extrato, inclusive com possíveis efeitos negativos à saúde humana. O
estudo, intitulado "O Yin e o Yang no Ginseng", foi publicado no periódico
Circulation, da Associação
Americana do Coração.
Os cientistas trabalharam com amostras recolhidas nos mercados
norte-americano e europeu de quatro tipos de ginseng: o chinês e o coreano
(Panax ginseng), o americano (P. quinquefolium) e o sanqi
(P. notoginseng). O nome científico do gênero, Panax, vem do
grego "pan", que significa tudo, e "akos", cura.
Os princípios ativos da planta são conhecidos como ginsenosídeos. Entre
eles, a equipe descobriu duas moléculas que ocorrem em abundância: o
panaxtriol Rgl e o panaxidiol Rbl.
Acontece que esses compostos possuem propriedades terapêuticas opostas. O
Rgl estimula a angiogênese - a formação de novos vasos sangüíneos. Em um
organismo adulto, o fenômeno ocorre apenas em certas condições, como
durante a cicatrização.
"O rgl poderia servir como base para a síntese de drogas que promovessem a
cicatrização, processo deficiente em diabéticos", disse Shiladitya
Sengupta, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, co-autor do estudo.
Caso o outro composto, o Rbl, seja o "dono do pedaço" na fórmula, acontece
o contrário: a angiogênese é inibida. O diabético do exemplo acima que
tomasse uma fórmula à base do ginseng "errado" teria ainda mais problemas
de cicatrização.
Mesmo assim, Sengupta vê a dupla personalidade da raiz como algo
vantajoso. Ele lembra que a angiogênese anormal e excessiva é um elemento
fundamental para o desenvolvimento de tumores, uma vez que as células
cancerosas são alimentadas por vasos novos. "Moléculas similares ao Rbl
ajudariam na prevenção química do câncer", explica o pesquisador.
Padronização
Os cientistas dizem que mais testes são necessários para que o uso
terapêutico do Rbl e do Rgl seja compreendido, assim como a formulação de
uma dosagem correta - por enquanto, ninguém sabe nem que molécula
predomina em que espécie da planta. Eles também pedem normas mais rígidas
sobre sua comercialização.
"É difícil determinar com exatidão qual efeito será ativado a partir de
qual dosagem, pois a composição dos ginsenosídeos difere de amostra para
amostra", diz Sengupta. "As pessoas precisam saber a composição exata do
ginseng antes do consumo".
O ginseng é um fitoterápico popular nos Estados Unidos, onde movimenta um
mercado de até US$ 300 milhões por ano.
No Brasil, sua venda é regulamentada desde 2000. A bula de uma marca
nacional recomenda o consumo do extrato para elevar a "atividade celular,
o que se evidencia pelo aumento acentuado das capacidades mental e
física".