Maconha, canabis

Nome científico: 
Cannabis sativa L.
Família: 
Cannabaceae
Sinonímia científica: 
Cannabis sativa var. kafiristanica (Vavilov) E.Small & Cronquist
Partes usadas: 
Sumidades floridas, folhas, brotos.
Constituintes (princípios ativos, nutrientes, etc.): 
Canabinoides (delta-9-tetrahidrocanabinol, canabidiol, metanandamida, JWH-015, etc.), flavonoides, fenóis, alcaloides e óleo essencial (β-cariofileno, humuleno, α-pineno etc.).
Propriedade terapêutica: 
Anticonvulsivante, antiemético.
Indicação terapêutica: 
Doença de Parkinson, esquizofrenia, ansiedade, distúrbios do sono, epilepsia, náuseas, esclerose múltipla, câncer de próstata.

Nome em outros idiomas

  • Inglês: cannabis (droga), hemp (fibra), hashish, marihuana, marijuana
  • Espanhol: cáñamo
  • Francês: cannabis, chanvre, chanvre d'Inde

Origem, distribuição
Acredita-se que seja originária da Pérsia e da Índia.

Uso popular e medicinal
Esta planta é conhecida e cultivada há mais de 4.000 anos, sendo usada antigamente na forma de fumigações. Em tempos remotos na Índia e China recorria-se à resina para aliviar a dor, reduzir a febre, estimular o apetite, suspender a diarreia, a disenteria, a bronquite, a enxaqueca, a insônia e diversos transtornos neurológicos.

É excelente produtora de fibras (conhecida como cânhamo), de cujas inflorescências femininas depois de secas, tem origem o haxixe dos orientais, a marijuana ou maconha como é conhecida no Brasil.

A introdução da Cannabis sativa na Farmacopeia ocidental é devida a W. B. O'Shaughenessy, tendo cabido ao francês Jacques Joseph Moreau de Tours (1804-1884) observar seus efeitos sobre o ser humano, em exaustivo trabalho junto às populações do Egito. De acordo com registros históricos, a Bíblia de Gutemberg teria sido feita com as fibras deste vegetal, assim como as velas e as cordas das caravelas que trouxeram Colombo à América [1].

C. sativa possui centenas de componentes dos quais aproximadamente 80 são denominados canabinoides, por atuarem nos receptores cerebrais com esse mesmo nome. As estruturas químicas dos principais canabinoides foram descritas nos anos 1960, incluindo o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), o componente responsável pelos efeitos psicoativos da droga como alterações na percepção, orientação e controle motor.

Entretanto vários outros canabinoides conhecidos, muitos deles com potencial terapêutico, são diferentes. Um exemplo é o canabidiol (CBD), que possui efeitos opostos aos do THC, além de apresentar efeitos ansiolítico e antipsicótico. O CBD isoladamente não apresenta os efeitos típicos do uso da maconha.

Vários pesquisadores brasileiros dedicam-se ao estudo do potencial terapêutico do CBD notadamente na doença de Parkinson, esquizofrenia, ansiedade, distúrbios do sono e dependência de drogas. Na década de 1970 observou-se em animais e em humanos os efeitos anticonvulsivantes do CBD. Entre novas evidências cita-se o caso de uma menina com quadro de epilepsia refratária decorrente de rara doença genética, que melhorou devido ao uso do CBD.

Atualmente entre os usos terapêuticos bem aceitos incluem-se o efeito antiemético (náuseas) e estimulação de apetite em pacientes de AIDS e de quimioterapia

Importante deixar claro que CBD e THC não são equivalentes. Um medicamento que combina CBD e THC já está disponível para tratamento de esclerose múltipla em países como Canadá, Espanha e Reino Unido.

O consumo na forma "recreativa" (por inalação) da maconha pode levar algumas pessoas a desenvolver sintomas psicóticos transitórios como alucinações, delírios e alterações cognitivas. Dependendo da dose, quantidade e precocidade do início, pode produzir alterações cognitivas permanentes e facilitar o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos em usuários vulneráveis.

Existem estudos que associam o uso crônico da maconha a maior risco de desenvolvimento de esquizofrenia e alterações na estrutura cerebral particularmente entre jovens e adolescentes. Essas alterações podem mesmo ocorrer em usuários ocasionais. Complicações clínicas como câncer, problemas cardíacos, respiratórios e imunológicos também estão associados ao uso da maconha inalada.

Os compostos canabinoides têm demonstrado potencial terapêutico para diversas doenças. Acredita-se que poderão ajudar milhões de pessoas no mundo todo, inclusive no Brasil. A ampliação dos ensaios clínicos avaliando segurança, faixa de dose e extensão de eficácia é essencial. A regulamentação do uso dos canabinoides poderá levar a importante redução de sofrimento e melhor qualidade de vida a portadores de diversas doenças e transtornos [2,3,4].

No Brasil o uso do CBD não está regulamentado porém a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tem autorizado a importação deste medicamento mediante pedido excepcional [5].

Outros canabinoides da maconha são também objetos de pesquisa científica. Um trabalho publicado em agosto de 2009 na British Journal of Cancer relata que a metanandamida e JWH-015 mostraram-se eficazes na redução do crescimento de câncer de próstata, o câncer mais comum diagnosticado em homens. Segundo os autores, esses componentes trabalham contra o câncer de próstata porque bloqueiam um receptor na superfície do tumor, evitando a divisão das células doentes [6,7].

Além de canabinoides, Cannabis sativa contém vários outros compostos: flavonoides, fenois, alcaloides e óleo essencial cujos componentes principais são β-cariofileno, humuleno, α-pineno, β-pineno, limoneno, mirceno e cis-β-ocimeno [8].

 Referências

  1. QUEIROZ, R. G. O mundo mágico das plantas. Thesaurus Editora, Brasília (DF), 2003.
  2. A erva e o equilibrista. Jornal Estado de São Paulo, 27 de abril de 2014.
  3. Joseph Kanabidiol. Jornal Estado de São Paulo, 27 de julho de 2014.
  4. Jornal da USP (2014). Maconha: Uso e abuso
  5. Anvisa já autorizou 113 pedidos de importação de canabidiol - Acesso em 14 de junho de 2015
  6. The Ayurveda and Yoga Blog: Cannabis extract can tackle prostate cancer - Acesso em 14 de junho de 2015
  7. British Journal of Cancer: Inhibition of human tumour prostate PC-3 cell growth by cannabinoids R(+)-Methanandamide and JWH-015: Involvement of CB2 - Acesso em 14 de junho de 2015
  8. Plant Resources of Tropical Africa (PROTA4U): Cannabis sativa - Acesso em 14 de junho de 2015
  9. The Plant List: Cannabis sativa - Acesso em 14 de junho de 2015

GOOGLE IMAGES de Cannabis sativa - Acesso em 14 de junho de 2015