Canela, caneleira

Nome científico: 
Cinnamomum verum J.Presl
Família: 
Lauraceae
Sinonímia científica: 
Camphorina cinnamomum (L.) Farw.
Partes usadas: 
Entrecasca, folhas, sementes.
Constituintes (princípios ativos, nutrientes, etc.): 
Oleo essencial
Propriedade terapêutica: 
Antifúngica, anti-inflamatória, antibacteriana, adstringente, estimulante, carminativa.
Indicação terapêutica: 
Náuseas, vômitos, gastrodinia, cólica flatulenta, debilidade gástrica, perda de apetite, dispepsia, redução do nível de açúcar no sangue.

Planta da Farmacopeia Brasileira
Canela tem uso científico comprovado como aperiente, antidispéptico, antiflatulento e antiespasmódico

Nome em outros idiomas

  • Inglês: cinnamom, true cinnamom, cinnamon bark, common cinnamon, Ceylon cinnamon, Sri Lanka cinnamon
  • Francês: canelle de ceylan, zimet
  • Espanhol: canela, árbol de la canela
  • Italiano: cannella
  • Alemão: zimt, Ceylon-Zimt, Ceylonzimt, echter Ceylonzimt, echter zimt, zimtbaum

Origem, distribuição
Sri Lanka (antigo Ceilão). Trata-se de antiga especiaria cujo comércio era controlado pelos portugueses no século XVI. 
Na Idade Média as especiarias eram empregadas na culinária principalmente por sua função terapêutica. Segundo o livro “História da Alimentação”, organizado por Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari, entre os séculos XIII e XVII eram recomendadas para temperar carnes, facilitando sua digestão.

No livro de 1256 “Regime du Corps” o autor Aldebrandin de Siena já afirmava que a canela tem o mérito de “reforçar a virtude do fígado e do estômago” e de “fazer com que a carne tenha um bom cozimento”. Seu uso era tão abrangente que, no século XVII, esta especiaria era utilizada até em massas italianas.

Há dois tipos de canela, ambos cultivados no Brasil (veja Google Images no final desta página):

  • Canela-verdadeira: é a espécie descrita nesta página, mais adocicada e suave
  • Canela-de-cássia (Cinnamomum cassia (L.) J.Presl), ou canela-da-china, possui sabor mais picante.

Curiosidade
A canela figurava entre os presentes dados à realeza por seu enorme valor. Considerada símbolo da sabedoria, foi usada por gregos, romanos e hebreus na aromatização de vinhos. Uma lenda diz que Nero, imperador de Roma, teria mostrado sua dor no funeral de sua mulher queimando o estoque anual de canela.

Descrição
O que chamamos de "canela" é uma especiaria, tempero ou condimento extraído da entrecasca (a parte mais interna) da árvore da canela, espécie de aproximadamente 10 a 15 metros de altura, caule lenhoso, folhas perenes de cerca de 7-25 × 3-8 cm, ovalada e pontiaguda, verde e brilhante na parte superior.

As flores são hermafroditas (apresentam androceu e gineceu na mesma flor), brancas ou amarelo-esverdeadas e cobertas de pelos, bracteadas (folhas não desenvolvidas, tem a finalidade de proteger a flor e atrair polinizadores) e actinomórficas (tem simetria radial). 

O fruto de aproximadamente 12,5 cm é uma baga larga, elipsoidal, escuro ou preto-azulado, com uma única semente dentro. 

A reprodução é por sementes que contenham baga e também por propagação vegetativa.

Uso popular e medicinal [2,3]

A casca é retirada do tronco na época das chuvas, quando a seiva é mais abundante, e depois é seca e enrolada manualmente em formato de canudo, o que é conhecido como canela em rama ou em pau (foto). Os resíduos e as cascas quebradas se transformam em canela em pó.

Os principais usos da canela, seja em pó, pedaços da madeira ou oleorresina, são na culinária e na aromatização de alimentos processados (produtos de panificação, molhos, picles, pudins, bebidas), produtos de confeitaria, perfumes, produtos farmacêuticos, odontológicos e incenso.

Canela em rama e em pó

A casca da canela é importante na medicina popular. É adstringente, estimulante, carminativa e possui a propriedade de controlar náuseas e vômitos. A casca pode ser ainda utilizada para a destilação de óleo de casca e para a preparação de oleorresina extraída com solvente. As folhas são usadas para destilação de óleo de folha, que tem uma composição diferente do óleo da casca.

Como um poderoso estimulante local, às vezes é prescrito na gastrodinia (dor estomacal), cólica flatulenta e debilidade gástrica. Na fitomedicina europeia, óleo de casca de canela (0,05 0,2 g de consumo diário) é utilizado em chás e outras formas galênicas devido às propriedades antibacteriana, carminativa (combate a formação de gases no intestino) e fungistático (capacidade de matar fungos), perda de apetite e dispepsia (dor, queimação ou desconforto na região superior do abdômen).

O aroma deve-se ao óleo essencial cujo principal componente é o aldeído cinâmico (ou cinamaldeído), óleo amarelo viscoso levemente solúvel em água e muito utilizado como aromatizante em alimentos e perfumes. Já há confirmação de seus efeitos inseticida (contra larvas do mosquito Aedes aegypti), bactericida e fungicida, que permitem seu uso na agricultura em função da baixa toxicidade. 

Canela contém de 0,5 a 1 % de óleo essencial, cujo principal componente é o aldeído cinâmico. O óleo é destilado a partir dos fragmentos. Contém eugenol e em menor proporção encontram-se o ácido transcinâmico, os aldeidos hidroxicinâmico e o-metoxicinâmico, acetato cinâmico, terpenos (linalol, diterpeno), taninos, mucilagem, proantocianidinas oligoméricas e poliméricas, carbohidratos e traços de cumarina.

Eugenol (ou óleo de cravo, presente também no sassafrás e mirra) é utilizado na síntese de vanilina e para a conversão em iso-eugenol, utilizado para aromatizar produtos de confeitaria. Óleo de folha de canela é amplamente utilizado como um componente da fragrância em sabões, detergentes, cosméticos e perfumaria alcoólica, com um nível máximo permitido de 0,8% no perfume.

As sementes, utilizadas na Índia para fabricação de velas, contêm cerca de 30% de óleo fixo, obtido por fervura dos frutos maduros esmagados

Um estudo preliminar do US Agricultural Research Service com portadores de diabetes tipo 2 mostrou que consumir metade de uma colher de chá ao dia é suficiente para reduzir os níveis de açúcar no sangue. Além disso, os óleos essenciais de canela têm ação antifúngica, anti-inflamatória e antibacteriana.

 Dosagem indicada [1]
Aperiente, antidispéptico, antiflatulento e antiespasmódico. Componentes: cascas secas (1 g); água (150 mL). Preparar por infusão considerando a proporção indicada na fórmula. Modo de uso: interno. Acima de 12 anos, como aperiente tomar 150 mL do infuso, 10 a 15 minutos após o preparo, meia hora antes das refeições. Como antidispético tomar 150 mL do infuso, 10 a 15 minutos após o preparo, após as refeições. 

 Advertência: não usar em gestantes e lactantes e em pessoas com hipersensibilidade a canela e bálsamo-do-peru. Podem ocorrer reações alérgicas de pele e mucosas. 

 Culinária

A canela é um ingrediente típico em diversos preparados culinários como chocolate quente, arroz marroquino, quentão nas festas juninas, tortas de frutas, compotas, pães doces, bolos, bebidas quentes, arroz-doce, curau, ambrosia e muitos outros doces tradicionais.

A torta marroquina é um bom exemplo de sua versatilidade – preparada originalmente com pombo, substituido por perdiz no Brasil, é uma receita salgada e salpicada com açúcar e canela.

A canela é um componente do "garam masala" (foto), uma mistura de ervas tida como o coração da maioria dos pratos indianos [4].

The Magic Spice
Garam masala

Entra também em outra mistura famosa muito utilizada na culinária árabe denominada “baharat” (“baharat” significa pimenta em árabe) [5].

Canela-preta [7]
Há uma outra planta denominada canela-preta (Ocotea catharinensis Mez), da mesma família Lauracea, espécie originária do Brasil, ecossistema da Mata Atlântica, ameaçada de extinção. É muito usada nas residências litorâneas do Estado de Santa Catarina, formando dobradinha com a madeira de peroba, obtendo-se assim um aspecto listrado nos assoalhos com tons tendendo ao amarelo (da peroba) e ao negro (da canela).

 Referências

  1. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), 1ª ed. 2011.
  2. Plant Resources of Tropical Africa: Cinnamomum verum J.Presl - Acesso em 5 de julho de 2015
  3. Encyclopaedia Britannica Online: Cinnamon - Acesso em 5 de julho de 2015 
  4. About.com: The Magic Spice - Garam Masala - Acesso em 5 de julho de 2015
  5. The Spice House: Baharat - Acesso em 5 de julho de 2015
  6. Wikipedia: Cinnamomum verum - Acesso em 5 de julho de 2015
  7. Wikipedia: Canela-preta - Acesso em 5 de julho de 2015
  8. Condimentos e Especiarias - Canela - Acesso em 5 de julho de 2015
  9. Roteiro Gastronômico de Portugal: Canela - Acesso em 5 de julho de 2015
  10. Jornal Folha de São Paulo, agosto de 2005.
  11. Image: Wikimedia Commons (Author: Luc Viatour) - Acesso em 5 de julho de 2015
  12. The Plant List: Cinnamomum verum - Acesso em 5 de julho de 2015

​GOOGLE IMAGES de Cinnamomum verum - Acesso em 5 de julho de 2015

GOOGLE IMAGES de Cinnamomum cassia - Acesso em 5 de julho de 2015

GOOGLE IMAGES de Ocotea catharinensis - Acesso em 5 de julho de 2015